PESSOAS INSPIRADORAS - ANA PAULA DEL PADRE
"Escrevo porque as palavras são mais vitais que o ar que eu respiro."
Com essa frase, Ana Paula se apresenta e nos leva com ela em uma viagem de sensibilidade, carinho, atenção e muito amor.
Tive o prazer de conhecê-la graças à Mafê, e passei não só a admirá-la, mas a ser fã de seu trabalho e de sua pessoa. A Ana é puro amor, consideração e palavras que elevam, que confortam. Não só escreve em seu Instagram, como tem contos espalhados por diversas coletâneas, sendo só o começo. Pode ser que tenha se redescoberto escritora em um segundo momento em sua vida, mas para mim, é uma escritora de primeira, que temos a honra de poder acompanhar.
Sem mais delongas, segue sua linda entrevista. :)
1) Se você tivesse que escolher de 1 a 3 livros que mudaram a sua vida,
aqueles que você não vive sem, que daria de presente sempre que pudesse, quais
seriam?
Nossa! Só 3?
Não é escolha fácil, mas vamos lá. Acho que livros são criaturas
voláteis, eles se moldam a nosso momento de vida, por isso houve leituras que
não gostei da primeira vez que li e ao fazer uma segunda leitura, tempos
depois, me encantei. Era o meu momento
com aquelas palavras. Então, os que vou citar aqui são porque encaixaram-se tão
perfeitamente no meu entendimento ou no meu momento de vida, que me causaram
grande impacto, emoção ou grandes reflexões: Orgulho e Preconceito, de Jane
Austen, Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago e Antes de Nascer o Mundo, Mia
Couto.
A crise dos quarenta, como muitos
chamam, e que prefiro dar o nome de maturidade, foi um divisor de águas para mim. Muitas de minhas crenças mudaram, foi uma
fase de descortinamento absoluto e, dentre tantos ensinamentos, destacaria o
acolhimento à nossa humanidade, o que
significa aceitar de verdade nossas faltas e falhas e compreender que apesar de
sermos seres de luz, temos um lado de sombras também. Aceitar, encarar, acolher
e acarinhar nossas sombras e dores foi o melhor aprendizado que pude ter, e
colocar em prática, pois, pela primeira vez, me vi inteira, completa e humana,
no sentido mais amplo da palavra. Resumindo, existir sem o peso da busca pela
perfeição.
3) Quando e como você soube o que queria fazer da vida? Quando descobriu
seu propósito?
Acho que nunca soube, talvez
fizesse vaga ideia somente. Quando criança, sonhei ser bailarina clássica, fui
aluna do Teatro Municipal de São Paulo, mas não levei esse sonho às últimas
consequências, muito provavelmente porque não era meu real propósito. Sempre gostei muito de ler e escrever, minhas
redações sempre eram destaque na escola, iam para o mural do colégio, recebia
muitos elogios dos meus professores de português, que sempre me diziam que eu
tinha que seguir carreira na comunicação ou jornalismo. Juro que cheguei a
pensar nisso. Mas, o que seria de nós sem as mudanças de percursos e os
atalhos, não é? A vida mostrou-se
diferente na prática e, aos 17 anos, já pronta para entrar na faculdade, fui
aconselhada por familiares a estudar outra coisa, algo que me garantisse
trabalho certo e fosse promissor para o futuro, pois desde muito nova eu já
tinha muitas responsabilidades em casa, inclusive financeiras. Fui estudar Comércio Exterior e Relações
Internacionais, ramo que estou até hoje, e, apesar deste também não ser meu
propósito, é meu ganha-pão, é o que me trouxe até aqui e ao que sou muito grata. A escrita, tão esquecida lá nos murais do
colégio, retornou há pouco tempo, cerca de dois anos atrás, quando numa sessão
de terapia eu me lembrei ser isso algo que eu amava muito fazer, um resgate de
mim mesma. De lá para cá, abri no Instagram
a página @palavrasquebrotam, participei de 10 antologias de contos, crônicas e
poesias e estou trabalhando para juntar todos os meus rabiscos num livro solo.
Sendo muito sincera, não sei se isso também é meu propósito maior, mas posso dizer,
sem sombra de dúvidas, que é o que me põe mais perto de quem sou de verdade.
4) Como é seu processo criativo (ou de trabalho)? Você é metódico com o
que faz, ou deixa as coisas fluírem espontaneamente?
No trabalho de escrita, acho que
sou mais do time que deixa as coisas fluírem espontaneamente. Acho que exatamente porque o meu trabalho “de
verdade” é bem rigoroso, lido demais com grandes projetos, processos e prazos, decidi
que se a escrita virasse isso para mim também, esse compromisso pesado e cheio
de regras, ela perderia o encanto que me causa. Então, eu deixo fluir. E percebo que quanto
mais eu deixo, melhor, a inspiração vem aleatoriamente, leve, a qualquer hora,
sem forçar. Respeito meus momentos de bloqueio criativo e acolho de braços
abertos as épocas das grandes safras poéticas.
5) Quando você está exaurido/sem foco/sem inspiração, o que você faz?
Eu respeito esse momento, que
pode durar pouco ou muito, não forço porque não vai sair nada e, mesmo se sair,
o resultado não terá alma, que é o que eu quero imprimir sempre em minhas
palavras.
6) Quais (ou quem) são suas maiores influências/inspirações?
Sempre que me perguntam de onde
vem minha inspiração, respondo que vem da própria vida. Do dia-a-dia, da
rotina, do trabalho, da casa, da rua, do meu filho, porque não é sobre grandes
acontecimentos e sim sobre meu olhar sobre as pequenas coisas. De verdade.
Quantas vezes andando na rua veio a ideia de um verso, uma estrofe ou um
parágrafo inteiro? Então, a vida me inspira, as pessoas me inspiram. E se eu tiver
que citar nomes aqui, diria Clarice Lispector, nem sei se preciso adjetivar
essa criatura que para mim foi a que chegou mais perto da perfeição e Fernando
Pessoa, inspiração desde sempre, quando, ainda na escola, fiquei fascinada por
seus heterônimos (Alberto Caeiro era meu preferido), achava incrível ser quem
quiser ser, assumir todos os seus lados, todas as suas facetas e diferentes personalidades,
diluídas em diferentes autores, ser muitos em um só e criar tantos “eus”
diferentes.
7) Qual foi o processo de criação de seus livros/contos? O que você
tira de positivo e de negativo dessas experiências?
Os primeiros textos que escrevi
foram crônicas para blog. Depois, vieram os contos que foram publicados em
coletâneas, a maioria através de concursos em que fui selecionada. Exigiu de mim bastante disciplina, porque
havia uma temática a ser seguida e muitas regras em relação a tamanho de texto,
lauda, etc. Acho que só tiro coisas positivas de todas as experiências, porque
escrever é um exercício sem fim, quanto mais se escreve, mais se quer escrever.
A gente vai se lapidando. Também me aproximou de pessoas incríveis do mundo
literário, de quem eu era fã e hoje sou amiga.
E me ensinou mais sobre o estilo de escritora que eu sou (ou melhor, que
estou em construção de ser). Aprendi
também que não sei escrever sobre qualquer tema, não adianta me pedir para
escrever um livro sobre mitologia fantástica, por exemplo. Todos os processos e
experiências me ajudaram a entender meu estilo e onde é minha praia.
8) Quais seus próximos projetos?
Não tenho grandes ambições com a
escrita, pois como disse, faço por prazer, para trazer leveza à minha
vida. Não espero colher fruto de nenhum
tipo, mas me traz felicidade colocar palavras no papel, é um ato de sublimação
para mim, e me sinto feliz também por saber que aquelas palavras podem chegar a
outras pessoas e tocar alguém de alguma forma. Então, prefiro pensar que estou
plantando pequenas sementes. Vou participar em breve como uma das escritoras
convidadas de uma coleção de livros de contos baseados em letras de músicas de
grandes nomes da música brasileira. E
estou me organizando porque percebi que eu já tinha material suficiente para
publicar meu primeiro livro solo, quem sabe em breve?
9) Se você tivesse que deixar uma mensagem para quem está lendo, qual
seria?
Seja gentil consigo mesmo, não
pegue pesado com você, acolha sua humanidade. Isso reflete em nossa vida e em nossas relações, sejam elas quais
forem. Se cada pessoa fizer isso,
imagina que lugar mais bacana o mundo poderia ser, né? E leiam, pois a leitura
nos leva para lugares inimagináveis, nos traz emoções que a gente nem sonhou
que pudessem existir e nos ensina coisas que não deveríamos passar pela vida
sem aprender. Está tudo lá, nas
palavras.
Obrigada Ana, adorei! Sou sua fã.
Para mais da Ana:
Até a próxima pessoal!! Agradeço por acompanharem, que se sintam tão inspirados quanto eu ❤
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