WESTWORLD E O MUNDO QUE CRIAMOS PARA NÓS

“Esses prazeres violentos têm finais violentos.”


Vez ou outra aparece uma obra prima que nos chacoalha por dentro. Nos pega desprevenidos e mexe com a própria fundação de nosso ser.
Seja um livro, uma escultura, uma pintura, uma música, ou um filme. Aqui, é uma série, com produção de filme, que fez minha alma balançar. São tantas coisas a serem ditas, que não caberiam em um texto.
Assim, em homenagem à segunda temporada que se aproxima, a qual terá início no final de abril de 2018, pensei em fazer algumas considerações sobre a fantástica primeira.
Porém, aviso: outros textos virão analisando os muitos aspectos inteligentes e interessantes desta belíssima série, visto que um só não daria conta.
Para quem não conhece, “Westworld” é uma série da HBO composta por dez episódios, baseada em um filme homônimo. No filme, é criado um parque de diversões composto por robôs, os quais devem servir aos humanos visitantes. Ocorre que em determinado momento os robôs se revoltam pela forma como são tratados e matam os humanos visitantes, gerando uma rebelião no parque. No filme, os robôs são os vilões.
Já a premissa da série é totalmente inovadora e se afasta do filme original. Aqui, o foco está nos robôs, agora atualizados para inteligências artificiais, com aparência praticamente humana, que foram criadas para habitar o parque. Os visitantes humanos são meros turistas – literalmente, nesta história.
Perfeita analogia com a descoberta da mente humana, a busca interna, com a tomada de consciência, “Westworld” aborda desde ciência, religião, tecnologia, amor, e principalmente escolhas. Seriam elas livres ou pré-determinadas? Possuímos – assim como os habitantes do parque, livre arbítrio, ou nosso futuro já está traçado?
Esta e outras questões existenciais são amplamente abordadas em um roteiro intrincado, cheio de referências, interpretado por um elenco de primeira, somente com artistas que parecem ter nascido para seus papeis.
Para citar alguns, Anthony Hopkins, Rachel Evan Wood, Ed Harris, Jeffrey Wright, Ben Barnes, Tessa Thompson, Rodrigo Santoro, James Marsden, Jimmi Simpson, dentre outros magníficos artistas se juntaram para dar vida à história criada por Lisa Joy e seu marido Jonathan Nolan, sim, irmão do grande diretor Christopher Nolan.
A série é da HBO, e diferentemente do que se tem acostumado a ver, são lançados os episódios semanalmente, o que levou à diversas teorias e a uma base de fãs enlouquecida para descobrir os desfechos da história e de cada personagem, incluindo esta que vos escreve.
Cada episódio nos leva a uma espiral de autoconhecimento, regada à sangue, violência, muita música boa, uma produção de arte impecável, direção, figuro e fotografia dignos dos grandes prêmios.
Destaque para as músicas do show, pensadas individualmente para cada momento, cada cena, sendo a cereja deste grande bolo.
Ainda, ressalto as personagens mulheres e sua força, sendo elas que crescem mais, e mais longe, tendo os arcos narrativos mais interessantes e imprevisíveis.
Assisti à série duas vezes e ainda sim acredito que muita coisa ainda há para ser descoberta. Desde o primeiro episódio se percebe o cuidado com a narrativa, que não possui furos e se mostra amarrada como uma colcha de crochê. Cada detalhe conta.
As referências variam de arte, literatura, como “Alice no País das Maravilhas”, Shakespeare, Michelangelo, o próprio filme base, dentre diversas outras diretamente perceptíveis e outras que é preciso estar mais atento para percebê-las.
Pensamos, refletimos e vibramos junto com esta série maravilhosa, que concorreu e ganhou diversos prêmios. Não é à toa que está aguardando uma segunda temporada que promete ser igual – ou ainda mais, eletrizante do que a primeira.
A primeira temporada tem um ciclo completo, e como os próprios criadores disseram, é dominada pelo controle.
Já a segunda inicia um novo ciclo, ainda que diretamente ligado com o primeiro, que é dominado pelo caos.
“Westworld” traz diversas reflexões sobre a vida. sobre quem somos, quem queremos ser. Sobre as escolhas que fazemos e suas consequências, a vida que criamos para nós.
No caso da série, os personagens são instados a ir ao parque para serem quem não podem ser no “mundo real”. Lá, suas inibições são completamente perdidas e vemos “as máscaras caírem”, por assim dizer.
Da mesma forma, as inteligências artificiais são criadas para servirem à determinados estereótipos, sendo que ao longo da história vão descobrindo quem realmente são.
Então questionamos: é o meio que leva a pessoa a ser quem ela realmente é, ou ela se sente compelida a fazê-lo por estar em um meio que aparentemente não irá julgá-la?
Esta e outras indagações são feitas, todas com muita maestria, mas para mim, a mais importante continua sendo: quem é você de verdade?
Para quem ainda não assistiu, assista. Quem já viu, aguarde, a segunda temporada está chegando. De qualquer forma, fico grata por ter algo tão inteligente à nossa disposição. Tão bem feito e bonito. Se a vida é uma jornada, a estrada para dentro de cada um é um labirinto. Achar seu centro é uma busca eterna.
E você, "já questionou a natureza de sua realidade?”❤


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