O DIA EM QUE ME TIRARAM PARA DANÇAR - ANA PAULA DEL PADRE
Seguindo em nossa coluna da convidados especiais, ela, a sempre querida e gentil Ana Paula Del Padre, que além de tudo é uma escritora incrível. Segue um texto dela, inedito, e cheio de delicadeza e sentimento. Tenho certeza de que irão gostar!
Boa leitura!
"Eu estava naquele baile sem pretensão
alguma. Na verdade, eu nem queria ter
ido. Não estava no clima para festas ou
grandes comemorações. As circunstâncias
acabaram me levando para lá meio à força, por isso permaneci a maior parte do
tempo numa cadeira, sem prestar muita atenção ao que estava acontecendo à minha
volta.
Foi quando ela se aproximou,
surgiu, repentinamente, na minha frente e me tirou para dançar.
Eu, timidamente, disse que não me
animava muito a dançar, e ela, insistente, acabou me convencendo, dizendo que
seria divertido.
Acabei cedendo, abracei-a de leve
e deixei que me conduzisse. Os primeiros
passos foram meio desajeitados, pisamos nos pés um do outro, dançávamos em
ritmos diferentes, fora de sintonia, descompassados.
Depois de uma música e outra,
começamos a nos entender melhor, a sintonia veio chegando, o ritmo embalou,
ficamos mais encaixados, sincronizados, mais afinados.
Depois de algum tempo, algumas tantas
músicas depois, parei de pensar no “dois pra lá, dois pra cá”, a melodia me
invadiu, os passos foram saindo e fluindo naturalmente, sem que eu precisasse
me esforçar ou sequer pensar sobre eles...foi aí que comecei a curtir a magia
de dançar...deixei meus pensamentos voarem para longe, senti cada movimento, me
deixei levar, fui no impulso da música, ora mais rápida, ora mais lenta, fato é
que estávamos alinhados, nos entendendo perfeitamente, eu, minha companheira de
dança e a música...éramos um só. Havia
harmonia, existia consonância. Bailávamos com leveza, éramos espontâneos.
Já não sei quanto tempo havia se
passado e quantas músicas já tínhamos dançado quando minha companheira de dança
me soltou...retirou vagarosamente seus braços do meu entorno, foi indo para
mais longe, afastando seu corpo do meu, colocando fim, gradualmente, àquele
momento tão mágico.
Começou a virar as costas para ir
embora, me entristeci porque tive a nítida impressão de que ela me deixaria ali
no meio daquele baile totalmente só, no meio de pessoas desconhecidas, ao léu,
como se o que tivéssemos acabado de viver ali durante o tempo em que aquelas
músicas tocaram não tivesse significado nada para ela.
Fiz um movimento involuntário
para agarrá-la de volta, num ímpeto, consegui segurar sua mão, ela se virou de
volta para mim e me disse que precisava realmente ir. Que ela havia estado lá
somente para me tirar de onde eu estava e me ensinar a dançar. Agora que eu já havia aprendido a bailar
lindamente, que eu poderia seguir o baile por minha conta. Era genuíno, vi
verdade em seus olhos antes dela virar-se outra vez para ir embora, dessa vez
em definitivo.
E foi assim, o dia em que a vida
me tirou para dançar e me ensinou que o baile sempre seguirá."
Lindo texto Ana, e muito verdadeiro! Obrigada por isso :)
Para acompanhar mais as coisas lindas que a Ana escreve, sigam-na no Instagram (@palavrasquebrotam) e leiam seus textos no E aí, Guria?.
Um beijo e até a próxima!
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