A escolha que faço é o HOJE

Há exatos 3 meses escrevi o texto até então mais recente deste blog, com o seguinte título “Devolva-me a mim”.  Um grito de socorro pré-pandemia, ainda tão pungente e real.

Nesses três meses, o mundo quase acabou, os relacionamentos tornaram-se efetivamente virtuais, os abraços à distância, fomos forçados à prisões domiciliares a fim de garantir que estivéssemos aqui amanhã.

Nesse meio tempo tenho tido muito trabalho, muito medo, ansiedade, insegurança, como acredito que muita gente, os olhos lacrimejam com facilidade e tudo tomou uma proporção enorme.

Em contrapartida, terminei de escrever meu livro de poesias, e um novo ciclo de dúvidas se instalou: como publicar, quando? O que devo fazer com esse livro?

Então a situação política, mundial e nacional, fica cada vez mais caótica, mortes insanas são noticiadas todos os dias, racismos e preconceitos aumentam, e passamos a viver situações que oprimem, massacram e pesam até o mais compreensivo dos corações.

Precisei me recolher. Precisei silenciar para que eu mesma pudesse me devolver a mim, pudesse me fazer fincar os pés no chão e navegar através da névoa que se formou ao meu redor.

Assim, num dia qualquer, sem motivos especiais, abro a folha em branco, e as palavras jorram. 

Há dias estavam secas, encolhidas, apagadas em meio à névoa, em meio à torrente de ódio que parece querer dominar o mundo e que estava me engolindo.

Tendo por guia as palavras, que sempre me socorrem quando preciso, encontro do outro lado um tímido raio de sol, trazido carinhosamente por familiares, amigos, livros, e filmes, e finalmente começo a ouvir minha voz de novo. Começo a sentir minhas mãos e pés, começo a sair da lama.

Não, o mundo lá fora não mudou. A situação continua caótica e extrema. Não posso mudar nada lá. Aqui, no entanto, em mim e no meu mundo, eu posso escrever, posso pintar dias melhores. Posso me recolher quando necessário.

Aqui, dentro de mim, posso ser quem eu sou e enxergar a vida da melhor maneira que posso, aqui e agora.

Afinal, a escolha que faço é o hoje.







2 comentários:

  1. Que lindas palavras, como sempre.
    Este quarentena causa muitas sensações, e todas as que você mencionou são com certeza compreensíveis e compartilhadas! Espero que vc esteja melhor, após o desabafo, e reitero que estou aqui, quando quiser um carinho, conversar, estou aqui para te dar carinho e compartilhar dos sentimentos! <3 fica bem linda! Quero muito ler seu livro de poemas!

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